Vale sem o Brasil?
Em um sistema no qual era preciso comprar ingressos aleatoriamente e com muita anteced锚ncia, a d煤vida mais comum 茅 o que fazer se voc锚 se deparar com a situa莽茫o de ter nas m茫os ingressos para uma competi莽茫o sem o seu time. "Vendo os ingressos, 茅 claro." N茅?
Depois de assistir a uma emocionante final de gin谩stica art铆stica por equipes, eu digo: n茫o vendam seus ingressos, por favor. Ou os vendam para mim.
Um colega da 成人快手 Mundo, Natalio Cosoy, j谩 havia me alertado de que ver uma competi莽茫o de gin谩stica ao vivo 茅 completamente diferente de v锚-la pela TV. Decerto o mesmo acontece com todos os esportes, mas na gin谩stica a diferen莽a 茅 mais importante.
Pela TV, nunca temos uma vis茫o geral da prova, do ambiente, da Arena. Estamos sempre concentrados em um exerc铆cio, em um aparelho, nas piruetas de um(a) ginasta. Ao vivo, tudo acontece ao mesmo tempo. 脡 dif铆cil saber para onde olhar em meio a tantos saltos impressionantes e a tantos talentos.
E 茅 por causa disso, tamb茅m, que as competi莽玫es de gin谩stica art铆stica s茫o t茫o mais interessantes ao vivo. Talvez por estarem acostumados com os espectadores que est茫o na Arena mais por curiosidade do que por conhecimento profundo sobre o esporte, os organizadores tem um cuidado especial com o p煤blico.
Antes mesmo do in铆cio da competi莽茫o, com a Arena completamente escura, come莽a uma apresenta莽茫o dram谩tica sobre a modalidade. Ginastas - que n茫o s茫o os competidores - fazem piruetas no tatame central sob os aplausos animados da plateia e um show de luzes, para nos lembrar que, apesar do ritual e da complexidade, o que veremos em instantes 茅 mesmo um espet谩culo.
Em seguida, meninas fazem os movimentos b谩sicos em cada um dos aparelhos que fazem parte da competi莽茫o, iluminados por canh玫es de luz. Durante as provas, tel玫es nos mostravam os melhores movimentos em c芒mera lenta, comentados pelos narradores oficiais, para n茫o ficarmos com saudades demais da TV de casa.
Os narradores, talvez compadecidos da nossa ansiedade em meio a tantas escolhas imposs铆veis, tamb茅m nos chamam aten莽茫o para atletas ou pa铆ses espec铆ficos em cada uma das rota莽玫es de aparelhos. Assim, aprendemos rapidamente que vale a pena nos concentramos nas apresenta莽玫es de solo romenas, nos saltos americanos, na trave chinesa, nas barras assim茅tricas brit芒nicas.
Parece um pouco acad锚mico para uma competi莽茫o esportiva, mas o aprendizado 茅 prazeroso e vale cada segundo. A plateia, mesmo dividida em cores e bandeiras diferentes, parece torcer por todas elas sem pudor. A cada erro, queda ou pisada fora da linha, ouve-se o "uh" compadecido dos espectadores, em un铆ssono. N茫o importa de onde as ginastas s茫o, estamos ali para todas elas. Uma esp茅cie de recompensa pelo esfor莽o que fazem somente para nos impressionar.
A hora do aquecimento, quando as equipes tem um minuto para se prepararem para um novo aparelho, 茅 um show 脿 parte, que nunca vemos pela televis茫o. Talvez por n茫o estarem sendo oficialmente avaliadas, elas parecem relaxar. Fazem piruetas mais ousadas, correm com menos c谩lculo, se jogam nos movimentos sem medo de cair. E caem, para n茫o ca铆rem sob o olhar dos ju铆zes.
D谩 sempre, 茅 claro, uma dorzinha pela aus锚ncia do Brasil. Na chegada a North Greenwich Arena, saindo do metr么, encontrei a ginasta Adrian Gomes, que esperava as outras meninas para acompanhar a final.
Mas assistir a uma competi莽茫o assim tamb茅m nos d谩 a capacidade de entender melhor os nossos atletas e o porqu锚 de eles n茫o terem conseguido estar l谩 naquele momento. N茫o se enganem: todos os ginastas choram, se desconcentram pelo nervosismo, erram, caem. O que vira o jogo para eles parece ser, algumas vezes, uma inspira莽茫o do momento e muitas vezes, as condi莽玫es que tiveram para chegar at茅 ali.
Aqui em Londres e no Rio, vale ver os Jogos sem o Brasil. Mesmo sem medalhas, s贸 por cont谩gio, a Olimp铆ada pode acabar - tomara - nos transformando em um pa铆s mais apreciador e apoiador do esporte.